Plutão e seus reflexos na ciência, tecnologia e nossa existência.

Olá,

Hoje vou postar algo um pouco diferente aqui no blog, que não podia ficar de fora: o sucesso da nossa jornada até o planeta -anão- Plutão (e sua lua Caronte), através da sonda New Horizons. Toda rede social, veículos de comunicação como blogs, jornais eletrônicos, TV e etc, soltaram pelo menos uma notinha sobre o espetacular feito (que nem todos entendem como tão espetacular).

Comparação Terra - Plutão - Caronte
Comparação Terra – Plutão – Caronte

Não vou focar em toda a narrativa do que ocorreu, e do que estar por vir, pois existem diversos outros canais cobrindo a saga da nossa longínqua nave, que já cumpriu feitos inéditos e fez história.

New-Horizons-Lancamento-Ben-Cooper-janeiro-2006Lançada no dia 19 de janeiro de 2006, na plataforma da NASA (National Aeronautics and Space Administration – Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço) em Cabo Canaveral, Florida, EUA, a sonda percorreu mais de 4,8 bilhões de quilômetros em direção ao destino mais aguardado: o planeta Plutão. O objetivo aqui era trazer o máximo possível de informações sobre o misterioso e gelado Plutão, após este feito, a nossa intrépida espaçonave ainda vai explorar a região conhecida como cinturão de Kuiper.

Na imagem à esquerda, Plutão captado pelo telescópio Hubble; à direita, a imagem nítida feita pela sonda New Horizons (Foto: Hubble: NASA/ESA. New Horizons: NASA/JHU-APL/SwRI)
Na imagem à esquerda, Plutão captado pelo telescópio Hubble; à direita, a imagem nítida feita pela sonda New Horizons (Foto: Hubble: NASA/ESA. New Horizons: NASA/JHU-APL/SwRI)

Espera-se mais um sobrevoo de outro objeto do cinturão até 2020, antes de rumar para o infinito a além do sistema solar, onde, com justiça, em meados de 2030, ele nos deixará, já que sua bateria nuclear irá se esgotar, tornando a espaçonave uma relíquia vagante em nossa Via Láctea — a galáxia que abriga o Sol e outros 200 bilhões de estrelas como ele.

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Um zoom na superfície de Plutão. Montanhas de gelo e jovens. Uau. (Crédito: Nasa)

O evento pode não ter sido comemorando tão publicamente nas mídias tradicionais, como foi a chegada do homem na lua, mas em tempos onde a informação corre na velocidade da luz, podemos nos deleitar quase que como parte da equipe da NASA.

Caronte como você nunca viu, fotografada pela New Horizons durante o sobrevoo. (Crédito: Nasa)
Caronte como você nunca viu, fotografada pela New Horizons durante o sobrevoo. (Crédito: Nasa)

Além das primeiras fotos (de muitas que ainda estão na sonda, mas já a caminho da terra, o que deve levar algum tempo, já que a transmissão é feita por Rádio, com um delay de 4,5 horas, a 125 bytes/segundo, se eventuais programações na sonda demoram, imaginem o envio de imagens), receberemos também diversos dados científicos coletados por seus setes instrumentos, a saber:

  • Alice: Espectrômetro ultravioleta para analisar a composição da atmosfera de Plutão
  • Lorri: Telescópio óptico de alta resolução acoplado a uma câmera
  • Ralph: Câmera óptica e infravermelha para fornecer imagens coloridas, além de informações térmicas e de composição
  • Pepssi: Detector de partículas para estudar moléculas e átomos que estejam escapando da atmosfera de Plutão
  • Swap: Instrumento usado para medir as propriedades do vento solar em torno de Plutão
  • REX: A antena principal de comunicação também fará um experimento, ao transmitir ondas de rádio através da atmosfera de Plutão na direção da Terra
  • SDC: Contador de partículas de poeira desenvolvido por estudantes da Universidade do Colorado
Eyes on Pluto
Eyes on Pluto

E você pode acompanhar tudo de camarote, através do simulador em tempo real (considerando o delay de 4,5 horas, claro), trata-se do aplicativo chamado de “Eyes on the Solar System“.  Lembrando que tudo é baseado na trajetória programada e nos comandos pré-programados. O aplicativo pode ser baixado aqui. Além desta missão, podemos navegar livremente em nosso sistema solar, ou além, vale muito a pena dar uma olhada neste aplicativo. (inclusive, com a função “preview“, é possível rever a passagem da sonda em Plutão).

Além disto, a NASA está constantemente postando vídeos do seu centro de comando, onde podemos ver um pouco como as coisas acontecem por lá.

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Tá tudo muito bom, muito bonito, mas além de toda essa informação, também pude ver diversos comentários:

  • Alegações de que o dinheiro investido nesse “tipo de coisa” (porque quem fala as vezes não sabe nem do que tá falando, aí vira uma “coisa”), é desperdício, que deveriam reverter esse dinheiro para diminuir a fome no mundo ou causas similares;
  • Não ganharemos nada na prática por ter feito essa visita em Plutão e nas explorações futuras;
  • Que tudo é uma farsa, que o homem nem na Lua ainda foi;
  • Que a NASA esconderá algum tipo de descoberta (provavelmente pirâmides, restos de civilizações, tecnologias e o papo de sempre);
  • Não estaremos aqui no futuro para ver quaisquer resultados das pesquisas desta exploração….e por aí vai, criatividade não falta, porque existem até teorias de espíritos pertencentes à uma supercivilização, que estariam por lá (Plutão), mas claro, não poderiam ser vistos, já que nossa tecnologia não possui a capacidade de detecta-los…que pena…rsrsrsrs

Ontem lendo o alguns blogs, me deparei com um vídeo bem interessante, do site Papo de Primata (do David Ayrolla), onde foi feito um resumo falando sobre alguns destes pontos, acho que vale muito a pena dar uma assistida, garanto que vão achar bem interessante:

Inclusive, irei dar uma organizada na parte de vídeos daqui do blog, e irei incluir alguns vídeos que tenho achado bastante interessantes (lá do Papo de Primata), e que acredito que vocês também vão achar bem legais.

Assistindo ao vídeo, vocês vão perceber que o legado de uma expedição espacial deste tipo é enorme, e com custos irrisórios diante do que pode nos oferecer, não só em termos práticos (telecomunicações, área médica, tecnologia de apoio em resgates, utilitários para melhorar nossa comodidade, etc, melhor ainda, dê uma olhada nos spinoff’s da NASA), mas em termos da construção do nosso próprio conhecimento e sobrevivência (viram lá no vídeo o asteroide que vai passar bem pertinho da Terra? Estamos preparados para isto?).

Como devem ter percebido, os spinoff’s são gerados graças ao avanço “forçado” da tecnologia, uma vez que a engenharia não acompanha nem de perto o que a física propõe ou já mostra como possível, ou seja, a engenharia é levada ao extremo, e nestes momentos as soluções aparecem, e de pouco em pouco vamos avançando.

Este avanço da tecnologia é tanto, e tão entrelaçado com nossas vidas, que por vezes são parte de nós mesmos e não nos damos conta disto. Para entender melhor, recomendo a leitura de um artigo de minha autoria: “TRON, extensões e o legado.“, referenciado pelo artigo “O Superorgânico” (1917), de Alfred Louis Kroeber. Vale leitura!

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Outra importante razão para investirmos na exploração espacial seria a nossa própria descoberta, pois quando aprendemos um pouco mais sobre o cosmos, estamos melhorando nossa compreensão sobre nós mesmos, e este tipo de motivação filosófica/existencial, que aparentemente para muitos de nada serve, é o grande motor para novos cientistas, afinal, muitos ficam admirados quando contemplam as estrelas ou viram fãs de filmes de ficção científica, e daí podem surgir as novas mentes que vão impulsionar nossa ciência.

NORTON (2007) http://www.amputee-coalition.org/inmotion/nov_dec_07/history_prosthetics.html
NORTON (2007)
http://www.amputee-coalition.org/inmotion/nov_dec_07/history_prosthetics.html

Assim, através deste entrelaçamento do homem + ciência + tecnologia, o ser humano, normalmente, tende a se mover no sentido da evolução, afinal, desde muitos anos desejávamos conquistar novos espaços. Aqui cabe citar um dos maiores feitos da ciência: a chegada do homem à lua. Observe que a NASA só viabilizou tal expedição, além de nossas antigas fronteiras/limitações, depois que a força aérea dos E.U.A. conseguiu pela primeira vez, em 1947, quebrar a barreira do som. Desta forma, limitações são transpostas, através da impulsão da sociedade, norteada pela ciência, que possibilitou gerar a tecnologia que nos levasse mais longe.

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Do ponto de vista da importância dos programas espaciais para nossa sobrevivência, basta perceber que somos um alvo no meio do espaço, e que colisões já existiram e devastaram outras espécies, qual a razão deste tipo de evento não se repetir? Temos um monitoramento para isso? E mais, existe algum plano de contingência no caso da iminência de um evento deste porte? Infelizmente as respostas para essas perguntas não são nada animadoras. 😦

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Acredito que a “redescoberta” de Plutão aflore mais uma vez este tipo de debate, que normalmente fica adormecido durante os intervalos de grandes feitos científicos, de forma que, com a publicação das fotos e de diversos artigos que vão surgir, baseados nos dados coletados, fica a esperança de que a ciência possa cada vez mais iluminar o norte da nossa espécie.

Até a próxima,

Edinaldo Oliveira

4 comentários em “Plutão e seus reflexos na ciência, tecnologia e nossa existência.”

    1. Valeu “Sir” SimonsFernando rsrsrs

      E pior, sem ter noção nem do básico da ciência, questionam a mesma…nunca nem que me meti a debater a bíblia, admito logo que não conheço nada, afinal, nunca li…

      Porém, mesmo sem entender do assunto, acho que devemos sempre buscar a lógica envolvida no tema, com ceticismo e razoabilidade, não gosto de nada extremista, como o Richard Dawkins, onde por vezes vejo incoerências…enfim…

      Abraço e obrigado pela visita.

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  1. Parabens otimo texto bem explicativo,e sem sensassionalimo,raro ler artigos assim, por favor posta mais a astronomia brasileira precisa muito de explicações como essa, pena que astronomia por aqui não seja rentavel,abraços

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    1. Obrigado pelos elogios Adavilson… 😀

      Irei iniciar esse tipo de artigo sim, um tanto mais “filosófico” rsrsrs

      Infelizmente a astronomia aqui realmente é desvalorizada, mas para quem gosta, acredito que sempre seja possível encontrar seu lugar.

      Abraço!

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